“E, depois de terem jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros. Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas. Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: SENHOR, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.” João 21:15-17.

Alguns comentaristas definem a palavra Amo, phileo; como: Gostar de, importar-se afetuosamente com, ter ligação pessoal com. No entanto, nesta referência ao texto diálogo, o vocábulo quase sinônimo é usado em outras passagens. Todavia, é interessante observarmos o interrogatório e a insistência de Jesus na afirmação de Pedro, pois nos traz lições preciosas. Por exemplo, entendemos que sua intenção era ensinar o significado pleno da palavra amor, até então, mencionada de forma, superficial e desprovida. Ela merecia alcançar um grau maior. i.e.Agapaõ, que sugere, liberdade de maneira deliberada expressar um sentimento, (gr.probatia).

Se observarmos esse interrogatório sobre um cunho jurídico, teremos uma promessa solene. Perceba a sentença. Vamos ler o que diz o art. 342 do Código Penal:

O crime de Falso Testemunho ou Falsa Perícia, verbis: ‘‘Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade, como testemunha, perito, tradutor ou intérprete em processo judicial policial ou administrativo, ou em juízo arbitral’’.

O Código de Processo Penal, por seu turno, no Capítulo ‘‘Das Testemunhas’’, exige ‘‘a promessa de dizer a verdade do que souber e lhe for perguntado’’, a testemunha prestará o compromisso de dizer a verdade (CPP, art. 203). Observe a importância da afirmação e a força gerada por ela.

Jacques Derrida disse que “a mentira depende do dizer e do querer dizer, do ato de dizer”, ela “permanece independente da verdade ou falsidade do conteúdo”, ou seja, “daquilo que é dito”.

E observando esse texto no aspecto bíblico, o reverendo Rev. Tércio Machado Siqueira escreveu:

O verbo hebraico nadar, que significa prometer solenemente, possui significativas lições para a vida da fé. A história da origem e do emprego desse verbo do AT fornece dados valiosos para a compreensão da teologia bíblia. Ao nos depararmos com o tema da promessa e voto a Deus, temos que fazer uma distinção entre duas classes e de votos ou promessa: o condicional e o incondicional. O primeiro refere-se ao voto feito com a expectativa da resposta afirmativa de Deus (Sl 61,5; 65.1 – 2). A promessa incondicional é aquela que é apresentada por um celebrante sem interesse pela resposta divina; ele se reveste da espontaneidade (Sl. 132,2). O voto condicional é o mais comum nas orações de lamento, e sua finalidade é chamar atenção para a sua dor angústia. Todavia, o voto se reveste de uma grande dose de seriedade, pois, uma vez feita à promessa, ela tem que ser cumprida pelo celebrante. A promessa diante de Deus e da comunidade equivale a uma dívida (Sl. 56. 12). Ela deixa de ser dívida somente quando ocorre o perdão de Deus (Nm. 30. 5 5,7). Com o passar do tempo, os votos, no culto, tornaram-se inflexíveis, vindo a ser um negócio rentável nas mãos de sacerdotes corruptos. A partir daí, o verbo nadar – prometer solenemente, passou a ser usado paralelamente aos termos que dava outra qualidade e sentindo ao voto: gorban, dom (Nm 6:21); nedabah, dádiva espontânea (Lv. 7.16 Dt. 12,6); Todah, ação de graças (Sl 50,14. 23; 56:12); dízimo (Dt. 12,6); Tehilah, louvor (Sl 22:25; 65,1). Por isso, o autor do Salmo 50 mostrar a tentativa de não tornar a oferta de animais para o sacrifício baseado-se no argumento de que isso viria agradar a Deus. A proposta desse salmo é que todo ou promessa se transformasse numa expressão de alegria, de espontaneidade e de ação de graças.

Portanto, ao declarar sim ou não, pense bem. Pense antes de confirmar ou fazer uma promessa solene à alguém. Não é a toa que muitas pessoas não querem assumir compromissos. Uma palavra marca, define e pode, para as partes interessadas, trazer segurança, confiança e solidificar uma relação interpessoal. Afinal, prometer implica em responsabilidades. Mas não significa perda da liberdade. Os laços profissionais e, principalmente, o emocional requer uma atitude verdadeira, sincera e intensa. Independente do tempo, um relacionamento não pode se sustentar sem agregar valores tão nobres. E ao insistir e confrontar Pedro, Jesus concedeu-lhe uma excelente oportunidade de reavaliar seus sentimentos e reconstruir algo novo. O amor verdadeiro não pode ser medido. Este é o valor do sentimento.

Que a graça te seja multiplicada

Chagas

Articulado e impresso no livro vibrações da alma e publicado originalmente em outubro de 2007